No domingo, dia 20 de maio de 2012, estreou o Saturday night live com o Rafinha Bastos na rede TV. O programa prometia ser uma versão brasileira engraçada e divertida mas decepcionou bastante. Vamos ser sinceros, começou divertido, mas a cada quadro foi se tornando um fiasco. Admitir isso é o primeiro passo para analisar os erros. E a primazia ficou por conta de subestimar o público.
Está certo que a rede TV não é a preferência nacional de audiência, mas ao invés de ser encarado como empecilho deveria ter sido visto como uma oportunidade de se diferenciar. Mesmo que a emissora costume investir em um humor mais fácil, o público real do Rafinha Bastos é o que o acompanha na internet. É esse povo que deveria ter sido a referência de alvo, instigando eles a assistir o programa. O público do pânico e agora o do Dr. Rey (que passa após o SNL Brasil) pode ser considerado como público em potencial. Prestar atenção nessa informação poderia ter evitado o erro subseqüente: A falta de objetivo e objetividade do programa.
O humor tem sua função social. Existe um lugar onde ele se encaixa. Mas as piadas do programa foram tão improvisadas quanto sem conteúdo. Além de referências antigas como a boy-band backstreet boys já que hoje no top 10 das paradas estão bandas com the wanted e restart. É possível que esse público mais novo tenha achado as piadas sem sentido. É inadmissível que pessoas que tenham saído do humor da internet, não tenham conseguido levar a bagagem que possui pra TV. Até as emissoras maiores estão de olhos atentos a esse público querendo atraí-los, se inspirando nos comportamentos espontâneos que aparecem. Tem a Parafernalha e o ‘não faz sentido’ do Felipe Neto que tem uma linguagem de humor crítica mais refinado que se aproxima de Erasmo de Roterdãm em Elogio a loucura,só que para o público adolescente e jovens. Tem o Cid do NãoSalvo humor muito escrachado se aproximando muito do estilo de Gregório de Matos (Um autor baiano que denunciava a corrupção e a lascívia pregando seus poemas por demais irreverentes na porta das tavernas no século XIX). O Risadaria que se aproxima do humor bobo da corte que faz o público rir com próprio constrangimento do autor. Todos eles são fontes que servem de inspiração e até parceria para adaptação de quadros na TV. E extremamente brasileiros. O Jacaré Banguela(Blog) tem o ouro nas mãos com o conteúdo de um blog que poderiam ser levados ao grande público e explorar esses assuntos da atualidade num quadro de vídeos da internet. Essa falta de cuidado com o conteúdo só pode ter sido conseqüência do próximo erro: A homogeneidade da equipe.
A maioria dos atores que apareceram na equipe do Rafinha Bastos são ou já foram stand-upers. A capacidade de serem excelentes atores, principalmente no quesito improviso é inegável. Mas a equipe toda com uma só forma de pensar e habilidades muito parecidas, não gera idéias novas porque é no conflito que elas aparecem. Sem contar que a postura aparentemente agressiva do apresentador inibe tanto o profissional quanto um possível convidado. Aí passamos para o próximo erro: A falta de um tema central que gerem entrevistas bacanas.
Nem sempre um possível candidato está disposto a se expor ao ridículo de forma espontânea. As pessoas não são obrigadas a querer aceitar tudo na brincadeira. Isso deveria ser respeitado. Sem contar os próprios artistas se solidarizam com os insultados espontaneamente e boicotam. Uma coisa é criticar de uma situação outra é insultar e rebaixar um ícone, e o que é pior, sem provas. Parece ousado, mas soa agressão gratuita. Também é uma forma de fechar porta por porta as oportunidades futuras. Já que uma resistência natural a ser entrevistado no SNL já existe, o interessante seria apostar em um tema central para cada programa e ir desenvolvendo aquele assunto, de forma leve, para adquirir confiança.
Há alguns comentários que circulam na internet de que o talkshow do Jô Soares não inova. Mas ele está há muito tempo no ar com seu horário garantido. Ninguém pode julgar o Jô , porque o maior diferencial dele é a bagagem cultural que ele carrega, o que facilita conversar sobre absolutamente qualquer assunto de forma natural e de conduzir uma entrevista (o que muitas vezes é erroneamente interpretado como querer aparecer mais que o entrevistado). Não podemos esquecer que ele vem de uma escola do humor desde a década de 1980.
No caso do Rafinha Bastos, seria importante reestreiar desmistificando a imagem que criou. As sugestões seriam: Um quadro inspirado num jogo que surgiu do apresentador na internet, onde ele mesmo era submetido a insultos, só que com perguntas constrangedoras destinadas a ele sem a possibilidade de revidar grosseiramente, ou não (exemplo o quadro: Irritando Fernanda Young). Entrevistas de temas atuais. Apostar em bandas novas e fazer disso uma forma de projetar um som novo (além de ser mais barato) e até fazer uma entrevista curta com eles, desafios, competições de bandas. A polêmica pode ficar por conta de assuntos que são tabus a serem discutidos de forma aberta e séria. Mostrar personalidades do meio do qual eles saíram (a internet), deixar de lado os artistas grandes. Chamar autores de livros, equipamentos ou qualquer outra coisa que esteja relacionada com o público alvo. O programa é só uma vez por semana, então dá pra fazer isso. Podendo estrear quantas vezes for preciso.
Não temos o objetivo de ter todas as respostas, mas com certeza as perguntas certas. |