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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O limite da cantada parte II








O outro lado do limite da cantada é a violência contra mulher. Mas o que motiva o homem a ultrapassar o limite do respeito? Intimidar, ameaçar, cercar e forçar são atitudes cada vez mais frequentes, que engordam os dados estatísticos de violência pelo mundo.  Mas de quem é a culpa? Da falta de controle do homem ou da permissividade da mulher? Quais são os fatores que influenciam: o machismo, o alcoolismo, a densidade demográfica ou a pressão social?


Logo quando surgiu o protesto da marcha das vadias, a primeira discussão de gêneros aconteceu em torno do quanto a roupa da mulher é considerado um fator determinante para alimentar o descontrole do homem,como uma jusstificativa dos próprios homens.  Vivemos em uma sociedade que transborda sensualidade e incentiva o consumo baseado na interação entre os gêneros e a satisfação sexual (típico da cultura ocidental). A mulher, o objeto de desejo, que se comporta com tal, é a vítima e também é considerada a autora de um crime contra si mesma. Porque ao se vestir de forma sensual, desperta nos homens o seu lado irracional de predador. E se a intenção de se vestir é atrair os homens, qualquer um sem nenhum critério de escolha, então a culpa é dela por não ter se comportado de forma mais recatada o suficiente para evitar a atitude dele.


É certo que o sexo tem uma importância para os homens muito maior do que para mulheres. Por questões pessoais e pressões sociais, ele está sujeito a ter que provar sua virilidade e masculinidade na competitiva busca masculina por poder. Para desconstruir esse argumento é preciso entender que a irracionalidade dos membros inferiores, não interfere na capacidade de raciocínio sobre a noção da gravidade dos seus atos de violência. Então a pessoa está ciente de que quando ele força uma mulher contra a sua vontade, está fazendo algo injustificável.

Acontece que o judicialmente injustificável se torna, na cabeça dos homens, justificável quando o objetivo é manter o seu status. E a única razão de manter o prestígio através da violência, é o machismo.

O machismo considera a mulher como um objeto sem opinião, sem vontades próprias, sem desejos e sem capacidade intelectual, física ou moral de alcançar grandes feitos. Por isso se acha no direito de submeter as suas vontades - inclusive sexuais, forjar, ameaçar, intimidar e violentar fisicamente ou intelectualmente aquela a quem quer controlar.

Em um estudo feito pela ONU foi divulgado um dado da pesquisa que revela o quanto as pessoas consideram justificável, bater em uma mulher. Analisando o gráfico, é possível notar que nos países onde a mulher está mais culturalmente associada ao papel de submissão ou ao regime de castas, são também onde a violência é mais facilmente aceita.




Em vermelho quando a resposta foi que algumas vezes se justifica a violência e marron quando a resposta foi que nunca se justifica.


Na prática esses dados se revelam da seguinte forma:

 De escravidão sexual e tráfego de mulheres; Quando há a tentativa de estupro de uma desconhecida (independente da roupa,lugar ou forma física); Quando há a tentativa de estupro de uma conhecida(independente da roupa,lugar ou forma física); Quando a motivação da agressão é impor uma ordem ditatorial; Quando há o uso de entorpecentes para deixar a mulher mais receptiva; Quando o uso de entorpecentes é usado pra incentivar atitudes mais agressivas: Quando o gênero é o motivo de intimidação profissional e perseguição.

A questão se torna mais complexa a partir do momento em que a violência acontece de forma mais sutil e sofisticada. Muitas vezes o agressor torna o ambiente propício para que, no entendimento comum, o ato pareça ter sido consentido. Um convite aceito, uma conversa mal interpretada, um presente comprado, entre outras atitudes que deixam espaço para que as pessoas envolta entendam a intenção de troca. E agora, a culpa é da mulher? Provavelmente ,no entendimento errôneo do agressor , será se ela cair no conto da cinderela. Porque quem se sente culpado raramente denuncia o abuso. E a sociedade não perdoa ingenuidade.

Por isso a mulher deve sim tomar certos cuidados em não viver como se violência não existisse. Nem sempre o machismo se manifesta na figura de um homem que separa mulher pra casar e mulher pra ter um affair esporádico. Há aqueles que usam a liberdade para esconder seus delitos. Na balada, na faculdade, na casa da vizinha ou com uma desconhecida.

 Mas o que a sociedade pode fazer para que o capitalismo não tenha que pagar o preço da irresponsabilidade de ter incentivado atitudes machistas manchando sua imagem? Qual o risco em maior ou menor grau de continuar como está?

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A cor do pecado


É engraçado como conceito do que é bonito ou feio tem muito a ver com referências gerais e pessoais de comportamento. O determinismo do século XVIII tem muita influência nisso. Nele a filosofia rasa e conservadora, que diz basicamente que as coisas são como são e não poderiam ser mudadas. Foi usada como pretexto para justificar ações políticas, uniões através do casamentos, (des)interesse em explorar novas terras, escravidão dos negros. Casamento servia para união de fortunas, permanência de status absolutos e afins. Da exploração de novas terras, manutenção e elevação do nível social e de influência na população sob a condição de massa de manobra. E a escravidão negreira foi justificada por uma suposta inferioridade da raça. Há de se considerar que escravidão sempre existiu de um povo com um exército de maior força para o de menor força, desde o surgimento das sociedades. A diferença nesse caso é que os africanos eram um povo rico e com terra rica em metais valiosos na época, que caíram na armadilha da guerra, mas que não está relacionado com cor da pele ou retórica genética.



Já que o casamento era uma relação de status, é possível que isso tenha sido a causa principal para uma relação baseada em interesses. O pudor e a subserviência ao marido servia como a retórica de Aristóteles para manter a ordem patriarcal, enquanto prostitutas e escravas eram vistas como quentes e despudoradas permissivas ou no caso das escravas que se estabelecia uma relação de domínio, poder e posse. O continente africano passou a ser alvo de tráfico de pessoas como negócio, no século XV. Com isso se estabeleceu a postura masculina de mulher para casar e mulher para se divertir, exercendo poder e influência sobre elas. Sendo o estilo europeu como aquela em que se deve mostrar a sociedade e enquanto negras principalmente como fonte de prazer, sem que fosse assumido uma relação do social de igualdade. Daí, o pecado. A questão não é nem essa ideia de mulher para casar/curtir, mas a referência por trás dessa escolha. Evitar a mistura de classes sociais diferentes. O quanto o determinismo influencia nessas escolhas? Mulheres conservadoras costumam agir com muita violência pra assegurar seu status, enquanto atribui à cor da pela, a profanação a cobiça e ganância tratando como ambição por ascensão social. A medida que o patriarcado é justificado. Como essas relações se constroem, em nome do amor ( ou do prazer) é um território muito confuso e cheio de embaraços.



Abaixo da percepção comum, existe a construção individual dos seus gostos, que de uma forma ou de outra é afetada pelo que costuma acontecer a nossa volta. Por exemplo, pense no que você gostaria de fazer que é diferente do que você faz. A sua percepção sobre o outro define como você o trata. Se você o considera uma figura inferior a você , invariavelmente o tratamento dedicado a essa pessoa será diferente. Como na relação determinista quanto a mulher considerada para se divertir, é a ideia de posse que predomina. O que se reflete na intenção de projetar na mulher o desejo de  manter ela a sua disposição. Nesse caso o homem não contempla e nem valoriza a vontade da mulher, além dos seus próprios desejos. E o que dizer sobre os diferentes tratamentos no privado e no público, exigências infundadas e xingamentos? O quão comum é atribuir a um tipo como amante apenas por existir? O quão um certo tipo de beleza é permitido em um determinado círculo de amizade? A mulher com o motor do desejo se torna nula e objetificada.




As referências pessoais são todas as aquelas que a gente atribui a um padrão de comportamento. Existem perfis de rosto que que atraem enquanto outros não permitem dar confiança qualquer , a primeira vista, porque no passado alguém com traços parecidos teve uma postura similar aliado a uma experiência ruim. Assim como alguns comportamentos, de pessoas estranhas ,podem nos impedir de se aproximar por questões de aparência física ou por padrão de comportamento. Essa é uma experimentação baseado na vivência individual. Da mesma forma a percepção coletiva é baseado no hábito, de determinar o que é beleza, do que é desejo, do que é sexo e do que é se relacionar com outro indivíduo. Nesse caso é uma construção coletiva de uma época.


Há muito o que se dizer sobre como o determinismo está presente em nossas vidas, sobre comportamento e beleza em várias vertentes mas hoje o objetivo mesmo é gerar a jurisprudência na cabeça de vocês pra provocar a reflexão sobre o que é bonito, o que é desejável, a partir da ótica de como esperamos tratar e ser tratos pelos outros daqui pra frente. E isso só com o exemplo de mulheres para quebrar paradigmas.