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sábado, 4 de agosto de 2012

Violência no senso comum. O que não justifica?


Recentemente um rapaz nos Estados Unidos entrou no cinema com uma arma e atirou em vários desconhecidos pelo simples prazer de matar. Após ser pego no estacionamento do shopping, foi descoberto que seu apartamento estava preparado pra explodir assim que os policias chegassem. Isso que nos leva a crer que foi uma ação meticulosamente planejada. Mas o que faz um garoto  se vingar dessa forma da sociedade? Esquizofrenia? Bullying? O acesso fácil à armas? Educação (ou a falta de) dos pais e da escola? A falta de punição efetiva? Má influência?


Sabe-se que esse garoto sofria bullying na escola e freqüentava a cerca de um ano um psicólogo. O que é bem oportuno de se apresentar na frente do juiz, já que distúrbios psicológicos podem gerar punições mais brandas. E no final das contas o rapaz se mostrou mais esperto do que louco. O inconsciente coletivo, por algum motivo, atribui atos violentos a um comportamento reprimido do indivíduo, a falta de estrutura familiar e/ou o excesso de filmes e jogos com temas de guerra. Acontece que o senso comum erra ao focar o problema no ambiente em que se configura ao invés de prestar atenção na reação do indivíduo.


Comportamento reprimido




Timidez, dificuldade de socialização, isolamento vão contra o ideal de felicidade, portanto são vistos como defeitos perigosos. Acontece que esse comportamento tende mais para introspecção do que para revolta. Os japoneses por exemplo, em uma situação de pressão ficam deprimidos e até com tendência ao suicídio mas não agem com violência aos outros. Há quem fique mais complacente com a dor alheia, como também há quem cultive o ódio se tornando implacável. Essas características podem construir no indivíduo tanto  um caráter para o bem quanto para o mal.


Falta de estrutura familiar


Um acompanhamento dos pais na educação dos filhos é muito importante, só que nada fala mais alto do que o exemplo. Mas não se engane, o exemplo pode produzir um comportamento completamente inverso aos dos pais. Tudo depende do que a criança considera como referencial principal e a visão dela sobre o que compensa. Não é raro ver em uma família estruturada (nos termos sociais de estabilidade aceitáveis) o filho ou filha praticar coisas que jamais foram ensinadas pelos pais. Afinal onde se aprende a queimar mendigo, a usar hipocrisia e falsidade ou pequenos delitos contra ética socialmente ignorados? Da onde vem a inveja? Imagina a  decepção dos pais ao constatar a postura do filho contrária ao que sempre ensinou!


O inverso também acontece, quando a criança considera o comportamento dos pais inaceitáveis e decide por si só não seguir o exemplo. E assim ela procura um outro referencial no qual possa se espelhar. A idéia de recompensa entra aí. Pais bobos ensinam seus filhos a manipular pessoas bobas, a começar de dentro de casa. Os super-protetores escondendo seus filhos da vida ensinam eles a serem bobos. Principalmente por colocar o bem e o mal em pólos opostos, quando muitas vezes isso se mistura numa mesma pessoa. Pais muito amorosos não preparam seus filhos para serem rejeitados. E pais desleixados não preparam os filhos pra nada.


Excesso de filmes e jogos com temas impróprios



Atribuir o comportamento leviano de uma pessoa a partir do que costuma assistir, é analisar muito superficialmente o problema em busca de uma resposta fácil. Definir classificação etária é sim importante, mas o que determina o grau de influência é a capacidade de absorver e analisar o que está sendo visto. E é necessária uma certa maturidade e base para que a ficção não produza interpretações erradas sobre certos comportamentos. Mas o que faz com que essa influência seja absorvida de forma positiva é o que se aprende sobre aquele assunto até a idade classificatória. Não adianta nada ter  21 anos sem saber nada sobre as conseqüências dos seus atos e ir pra uma festa com classificação etária de 18 anos. Os erros seriam inevitáveis.


Se essas coisas devem ser consideradas na educação deles, resta pensar em como cria-los.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A cor do pecado


É engraçado como conceito do que é bonito ou feio tem muito a ver com referências gerais e pessoais de comportamento. O determinismo do século XVIII tem muita influência nisso. Nele a filosofia rasa e conservadora, que diz basicamente que as coisas são como são e não poderiam ser mudadas. Foi usada como pretexto para justificar ações políticas, uniões através do casamentos, (des)interesse em explorar novas terras, escravidão dos negros. Casamento servia para união de fortunas, permanência de status absolutos e afins. Da exploração de novas terras, manutenção e elevação do nível social e de influência na população sob a condição de massa de manobra. E a escravidão negreira foi justificada por uma suposta inferioridade da raça. Há de se considerar que escravidão sempre existiu de um povo com um exército de maior força para o de menor força, desde o surgimento das sociedades. A diferença nesse caso é que os africanos eram um povo rico e com terra rica em metais valiosos na época, que caíram na armadilha da guerra, mas que não está relacionado com cor da pele ou retórica genética.



Já que o casamento era uma relação de status, é possível que isso tenha sido a causa principal para uma relação baseada em interesses. O pudor e a subserviência ao marido servia como a retórica de Aristóteles para manter a ordem patriarcal, enquanto prostitutas e escravas eram vistas como quentes e despudoradas permissivas ou no caso das escravas que se estabelecia uma relação de domínio, poder e posse. O continente africano passou a ser alvo de tráfico de pessoas como negócio, no século XV. Com isso se estabeleceu a postura masculina de mulher para casar e mulher para se divertir, exercendo poder e influência sobre elas. Sendo o estilo europeu como aquela em que se deve mostrar a sociedade e enquanto negras principalmente como fonte de prazer, sem que fosse assumido uma relação do social de igualdade. Daí, o pecado. A questão não é nem essa ideia de mulher para casar/curtir, mas a referência por trás dessa escolha. Evitar a mistura de classes sociais diferentes. O quanto o determinismo influencia nessas escolhas? Mulheres conservadoras costumam agir com muita violência pra assegurar seu status, enquanto atribui à cor da pela, a profanação a cobiça e ganância tratando como ambição por ascensão social. A medida que o patriarcado é justificado. Como essas relações se constroem, em nome do amor ( ou do prazer) é um território muito confuso e cheio de embaraços.



Abaixo da percepção comum, existe a construção individual dos seus gostos, que de uma forma ou de outra é afetada pelo que costuma acontecer a nossa volta. Por exemplo, pense no que você gostaria de fazer que é diferente do que você faz. A sua percepção sobre o outro define como você o trata. Se você o considera uma figura inferior a você , invariavelmente o tratamento dedicado a essa pessoa será diferente. Como na relação determinista quanto a mulher considerada para se divertir, é a ideia de posse que predomina. O que se reflete na intenção de projetar na mulher o desejo de  manter ela a sua disposição. Nesse caso o homem não contempla e nem valoriza a vontade da mulher, além dos seus próprios desejos. E o que dizer sobre os diferentes tratamentos no privado e no público, exigências infundadas e xingamentos? O quão comum é atribuir a um tipo como amante apenas por existir? O quão um certo tipo de beleza é permitido em um determinado círculo de amizade? A mulher com o motor do desejo se torna nula e objetificada.




As referências pessoais são todas as aquelas que a gente atribui a um padrão de comportamento. Existem perfis de rosto que que atraem enquanto outros não permitem dar confiança qualquer , a primeira vista, porque no passado alguém com traços parecidos teve uma postura similar aliado a uma experiência ruim. Assim como alguns comportamentos, de pessoas estranhas ,podem nos impedir de se aproximar por questões de aparência física ou por padrão de comportamento. Essa é uma experimentação baseado na vivência individual. Da mesma forma a percepção coletiva é baseado no hábito, de determinar o que é beleza, do que é desejo, do que é sexo e do que é se relacionar com outro indivíduo. Nesse caso é uma construção coletiva de uma época.


Há muito o que se dizer sobre como o determinismo está presente em nossas vidas, sobre comportamento e beleza em várias vertentes mas hoje o objetivo mesmo é gerar a jurisprudência na cabeça de vocês pra provocar a reflexão sobre o que é bonito, o que é desejável, a partir da ótica de como esperamos tratar e ser tratos pelos outros daqui pra frente. E isso só com o exemplo de mulheres para quebrar paradigmas.